terça-feira, 4 de agosto de 2009

faq 1: megszentségteleníthetetlenségeskedéseitekért

Tem algumas perguntas que me têm sido feitas com certa recorrência e, embora eu goste de responder personalizadamente a cada um que me questiona, muitas vezes esqueço de citar algo importante ou um fato pitoresco sobre o assunto. Pra resolver isso, decidi criar uma espécie de "FAQ" e com este post 'tô abrindo a seção. Nosso primeiro tópico é: língua!


1. Mas afinal, que língua se fala na Hungria?
Lamento decepcionar os desavisados, mas eles falam... (pausa dramática, música de suspense)... HÚNGARO!

2. E tu fala húngaro, cara?
Sim, é porque eu sou a reencarnação de um lendário príncipe huno!

3. Engraçadinho... Como tu te vira então?
Falando inglês, ora: na empresa onde trabalho, 30% das pessoas fala bem e o restante está aprendendo; no geral, a maioria dos jovens fala também, pois o ensino de inglês na escola é efetivo e não apenas simbólico; na universidade acho que mais de 80% dos estudantes tem fluência*. Além disso, a cidade é muito cosmopolita e tem gente de todos os cantos vivendo aqui; adivinha que língua eles falam...

4. Mas é muito difícil de aprender a língua local?
Segundo o estudo de um instituto britânico, ele está em segundo lugar no ranking dos idiomas mais difíceis de aprender no mundo (para adultos nativamente anglófonos). Na questão da pronúcia, creio que para nós, brasileiros, ainda deve ser mais difícil aprender alguma língua oriental, pois no húngaro não há fonemas que sejam novos pra nós, enquanto que, sobre o coreano, por exemplo, não posso dizer o mesmo. Ainda assim, o nível de difculdade é muito, muito alto.

5. Por quê? É diferente?
Totalmente! Essa talvez seja a principal dificuldade de aprendizado: o léxico é completamente diverso. Raríssimas palavras têm algma semelhança com alguma outra língua ocidental moderna, então fica muito difícil de fazer qualquer relação com algo conhecido e, por conseguinte, memorizar os vocábulos. O húngaro é a única língua reminiscente do grupo fino-úgrico, da famíla urálica, não tendo similaridade com nenhuma outra; há um parentesco longínquo com o finlandês, mas os húngaros dizem que não percebem semelhança prática. Eles usam o alfabeto romano, o que facilita a escrita, só que a versão deles tem 44 letras.

6. Ah, capaz! Como assim?
O alfabeto é muito bacana porque é lógico: cada letra tem um fonema e cada fonema, uma letra. Quatorze são vogais (o nosso aeiou mais ö e ü, podendo todas elas serem dobradas: áéíóúőű) e algumas letras são representadas usando dois símbolos; por exemplo, "zs" é uma letra (não duas!) que tem som de "J". Engraçado que eles não têm o nosso "ã" e simplesmente não conseguem pronunciá-lo, mas conseguem perceber a diferença quando eu falo. Outra coisa interessante é que a sílaba tônica é sempre a primeira, por isso, não há acentos (os símbolos nas vogais são sinais diacríticos). Mas o caso é que tem muitas particularidades e regras, isso torna a tentativa de criar frases bastante constrangedora.

7. Mas que tipo de regras?
Uma característica forte é que a formação das palavras é altamente aglutinante, parecido com o alemão. Em bom português, palavras enormes! Pra começar, um verbo pode ser conjugado em muitos tempos e pessoas diferentes, assim como no português, mas nos modos definido ou indefinido; por exemplo, o verbo "trazer" teria duas conjugações diferentes nas frases "eu trago uma cadeira" e "eu trago a cadeira". Aí os substantivos e adjetivos podem ser declinadaos em 18 casos gramaticas diferentes, enquanto no português são só 2 ou 3, se não me engano. Depois ainda tem uma tal de harmonia vocálica, então não basta só saber conjugar e/ou declinar, a palavra também tem que soar bem!! O vernáculo é muito rico e tem muitos sinômimos pra mesma coisa, dependendo do contexto. Pra dizer um simples "por favor", por exemplo, tu tem que escolher uma entre 5 possibilidades e nem sempre todas são adequadas.

8. Ah, mas então tu tá aprendendo?
Não estou tenho aulas, mas é claro que, estando imerso na cultura, a gente acaba pegando algumas coisas, nem que seja por osmose. Normalemente a gente escamba lições de português e húngaro no escritório. Já sei me defender dizendo algumas sentenças básicas (obrigado, por favor, bom dia), palavrões, alimentos (importantíssimo!!) e agora 'tô aprendendo os números pra, pelo menos, poder comprar coisas sem precisar de ajuda. Ah, também sei cantar "parabéns à você".

9. E vai ficar só nisso?
Confesso que me sinto seriamente tentado a aprender a língua pois, se por um lado ela é assim difícil, por outro lado é muito forte e lindíssima. Afinal, quem for capaz que me diga outro país que começou uma revolução por causa de uma poesia. Contudo, embora meu instinto queira se aventurar no idioma, meu censo de custo/benefício fala mais alto dizendo que não vale a pena o esforço; além do quê, tenho outras prioridades.

10. Bacana! Mas to curioso pra ver como soa, tem como tu falar alguma coisa aí pra eu ver?
Ah, dá pra tentar...
[vídeo]

E a propósito, essa aí no título é a mais longa palavra em húngaro (44 letras). Na prática ela não faz muito sentido, é mais uma brincadeira em cima da possibilidade gramatical que existe pela língua ser massivamente sufixada. Teria um significado parecido com "devido à sua contínua impossível circunspecção apenas por diversão". Mas não venha dizer que isso é a prova cabal da dificuldade da língua, pois em contrapartida, o português ainda esta na frente no ranking das maiores palavras já que temos muitas pessoas pneumoultramicroscopicossilicovulcanoconióticas.

Contudo, ambos - nós e os húngaros - ficamos atrás dos germânicos com sua "lei de cessão de obrigação da supervisão de rotulação da carne", ou, simplesmente, "rindfleischetikettierungsüberwachungsaufgabenübertragungsgesetz".

fontes: wikipedia e hungarotips

*choque cultural: aqui é comum ter aulas ordinárias em língua estrangeira na faculdade, por isso a maioria dos estudantes é fluente. Na Unisinos, certa vez, quase começaram um motim quando um professor mandou um texto em inglês pra estudar! A gente reclama que é atrasado, mas não faz nada pra se ajudar...

3 comentários:

  1. Muito bom!!!!!!
    Adorei mesmo!

    Agora tem que colocar o vídeo! :)

    Beijos

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  2. Inacreditável!
    É por causa desse tipo de coisa que eu achei bárbaro o slogan da TAM: "Porque quanto mais a gente viaja, mais a gente se entende".
    As culturas e suas peculiaridades são realmente fascinantes!
    Valeu por nos apresentar isso!
    Beijo!

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  3. Curti seu blog, mesmo sabendo o objetivo dele.

    ;-)

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