quarta-feira, 20 de maio de 2009

Paraíso Etílico

Há tempo queria escrever sobre isso. É uma característica muito forte da Hungria: aqui tem tudo que é tipo de bebida, a qualidade é ótima e os preços, bem acessíveis. Pra quem gosta de um bom trago, o paraíso!

Então não é a toa que o país ocupa uma posição de respeito no ranking mundial da taxa de alcoolismo. E os caras são mesmo tão "fora da casinha" que até a moeda deles chama "forint". Bah, essa foi péssima!

Cervejas
Muito boas e muito baratas. Isso que cerveja não é o forte da Hungria. As menores latas são de meio litro e a variedade é de deixar qualquer um vesgo. Aviso importante: eles não sabem gelar cerveja, então se tua preferência é por tomar a bebida a -4°C como no Brasil, melhor trazer de casa.

As marcas mais conhecidas são Soproni, Borsodi, Arany Aszok (equivalente à Skol) e Dreher (seria a nossa Bohemia, mas dá uma ressaca de carnaval!!), porém também é comum achar marcas de todos os cantos da Europa, especialmente da Áustria como Amstel, Gösser, Steffl e, minha preferida, Edelweiss.

Unicum
Nasceu como um digestivo, tipo Olina, mas o sabor e, principalmente, o alto teor alcoólico o transformaram numa bebida amplamente apreciada. Também é muito específica daqui e é produzido apenas pela Zwack, proprietária da marca; duvido que seja comum em outros lugares. Dica: a não ser que queira arranjar uma boa discussão, nunca diga a um húngaro que Unicum se parece com Jägermeister.

Pálinka
É a bebida nacional, uma aguardente feita de frutas e normalmente mais forte que a nossa cachaça, a partir de 40%. Mesmo pra quem não é muito fã de beber destilados - que é o meu caso -, aqui cabe uma exceção muito válida, pois a bebida realmente é boa e dá pra perceber diferentes sabores dependendo da procedência e composição. O costume é tomar de shot e é comum beber no início da festa pra "abrir os trabalhos".

Vinhos
Aí é que o bicho pega. Conheci muitas pessoas que me diziam com naturalidade que não gostam de cerveja, o que me deixava sempre surpreso. Quando percebi a infinita variedade, o preço e a excelente qualidade do vinho húngaro descobri o motivo: pra que tomar uma mera cerveja se eu posso beber um bom vinho??

São mais de 20 regiões vinícolas reconhecidas mundialmente num país que tem um terço do território do Rio Grande do Sul e dois vinhos são especialmente famosos entre os enólogos: o Egri Bikaver e o Tokaji. O primeiro é um vinho seco e muito escuro, por isso o nome que significa "sangue de touro". O segundo é um caso à parte, merece um capítulo especial...

Tokaji Aszú
Embora não tenha conseguido achar nenhum website pra embasar essa história, o que me contaram foi o seguinte: na época em que a Hungria estava em guerra contra os turcos, a região de Tokaj estava cercada. Por causa disso, os vinicultores não puderam colher as uvas no tempo certo; acabou que muitas frutas começaram a apodrecer. Não tendo alternativa, tiveram que usá-las mesmo tendo passado do ponto, já um tanto secas, e por isso necessitavam de uma quantidade maior de matéria-prima pra produzir o mesmo tanto de vinho que usualmente seria feito com bem menos.

O detalhe é que o fungo responsável pela deterioração da fruta age retirando a água e deixando o teor de açucar altíssimo; esse processo hoje é conhecido como botritização ou podridão nobre. Em decorrência disso, o resultado é uma bebida de tom dourado e é tão doce que é considerado um "vinho de sobremesa". A qualidade é medida em puttonyos - baldes - e a escala vai de 3 a 6. Quer dizer que, por exemplo, pra fazer um barril (136 litros) de vinho 5 puttonyos, foram usados 5 baldes de uvas botritizadas. Depois disso, ainda tem o Eszenszia, o supra-sumo dos Tokaji, mas esse até aqui não é comum.

Bom, não pode ser a toa que ele seja conhecido como "vinum regnum, rex vinorum" (vinho dos reis, rei dos vinhos) e que chegue a ser citado no hino nacional do país. Embaraçosamente, preciso confessar que eu nunca fui muito entendido de vinhos, mas pra gostar não precisa mesmo entender, então posso dizer: o troço é realmente bom pra caralho! E agora vem a melhor parte: sabe quanto custa? Olha a foto ao lado que tirei num supermercado (simplificando, a taxa de conversão é BRL1 = HUF100); agora compara com o preço praticado no Brasil pelo Submarino.

Ah, e uma última coisa interessante: até alguns anos atrás era proibido por lei brindar com cerveja batendo os copos. Isso é por causa de uma batalha perdida que foi festejada pelo inimigo dessa forma. Então, se for brindar à moda húngara tradicional, não bata os copos. Apenas levante sua taça e deseje saúde: Egészségedre!!

2 comentários:

  1. Dá pra votar duas vezes nesse post?????
    aaaaaaaaaaaaaaaa
    que eu quero! :9

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  2. Roger, obrigado pela informação! Queria saber que diabos eram estes puttonyos do Tokaji que compro aqui em SP e nenhum amigo sabia.

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